Com a pandemia de COVID-19 temos visto uma sobrecarga no sistema de saúde como nunca vista antes. Além dos insumos, vacinas, hospitais, respiradores, precisamos de profissionais de saúde para que as coisas funcionem, o que muitas vezes é negligenciado, e esses profissionais, e posso me incluir nisso, acabam sobrecarregados.

 

A Síndrome de Burnout, ou esgotamento profissional, é caracterizada por um esgotamento físico e mental relacionado ao trabalho, sobretudo à sobrecarga de trabalho. Vários sintomas podem caracterizar a síndrome, dentre eles sintomas físicos, psíquicos e comportamentais (saiba mais sobre a Síndrome de Burnout).

 

O que se observa ainda nesses quadros é uma sensação de esgotamento de energia, distanciamento do trabalho ou mesmo pensamentos negativos em relação ao mesmo, além de prejuízo na execução do trabalho que antes era feito. 

 

Esse quadro, por se tratar de uma condição relacionada ao trabalho, está mais relacionada a trabalhos com: 

 

Como vemos, uma série desses fatores pode estar presente quando observamos a situação dos Hospitais e Pronto-Socorros cheios: aumento da carga horária, sobrecarga de funções e gravidade dos problemas a serem resolvidos (que todos já sabem do que estamos falando). Está praticamente posto os ingredientes ocupacionais para o surgimento do Burnout e os profissionais adoecem.

 

Os dados de Burnout em profissionais de saúde são realmente alarmantes, sobretudo em períodos de sobrecarga dos sistemas de saúde, como o que temos observado com a pandemia de COVID-19. 

 

Dados de epidemias anteriores, como SARS e MERS indicavam que cerca de 30% dos profissionais envolvidos tinham quadro compatível com o esgotamento.

Dados mais atuais, relacionados à COVID-19, indicam números também preocupantes.

 

Em estudo conduzido com médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem na Itália, durante o primeiro pico da Pandemia atual, indicavam que 25% tinham sintomas de Burnout, sendo que ainda  57% tinham sintomas de depressão e 65% de transtornos de ansiedade.

 

Em estudo americano com 225 profissionais do sistema público de saúde envolvidos na pandemia de COVID-19, o relato de Burnout chegou a 66.2%.

 

No Brasil, não existem até o momento dados amplos publicados sobre Burnout durante a pandemia. Dados prévios à COVID-19, em estudo com 715 profissionais de saúde que trabalham em Unidades de Terapia Intensiva: médicos, fisioterapeutas, enfermeiros e técnicos de enfermagem, pelo menos 17.5% deles apresentavam sintomas de Burnout.

 

Certamente hoje os números são infelizmente muito maiores, e esses profissionais que estão na linha de frente, cuidado dos outros, muitas vezes não são olhados, valorizados ou cuidados. 

 

Posto isso, valorizar o profissional de saúde não é apenas agradecer ou prestar homenagens, que são extremamente merecidas. Apenas para começar, valorizar o profissional de saúde passa por oferecer a possibilidade de jornadas de trabalho menores, maior disponibilidade de profissionais por paciente, diminuição das sobrecargas de função, além de apoio psicológico e psiquiátrico disponível. Vale lembrar que quem cuida também precisa de cuidado.

 

    

Barros, Castellana. Psiquiatria Forense: Interfaces Jurídicas, Éticas e Clínicas. Artemed, São Paulo, 2020.

 

Fischer R, Mattos P, Teixeira C. Association of Burnout With Depression and Anxiety in Critical Care Clinicians in Brazil. JAMA Netw Open. 2020;3(12):e2030898.

 

Conti C, Fontanesi L, Lanzara R, Rosa I, Doyle RL, Porcelli P.Burnout Status of Italian Healthcare Workers during the First COVID-19 Pandemic Peak Period. Healthcare (Basel) . 2021 Apr 28;9(5):510.

 

Stone KW, Kintziger K, Jagger MA, Horney JA. Public Health Workforce Burnout in the COVID-19 Response in the U.S. Int J Environ Res Public Health. 2021 Apr 20;18(8):4369.